Ainda bem que a gente não mora em Paris…
Compras da primeira semana de fevereiro:
livro no sebo (presente do namorado, 24 reais, uma raridade, que fique bem claro, material para pesquisa que certamente vai virar, um dia, um conto, novela, romance, ou pelo menos dar pano pra muito papo por aí sobre a nossa terra natal)
simulador de caminhadas (a senhora venceu, dona B.G.L. Mas essa batalha eu explico depois)
A querida amiga
, poeta, astróloga, dançarina, dona de uma voz vibrante que mais canta do que fala, que escreve uma coluna belíssima aqui neste mesmo Substack (Amba, recomendo), perguntou a Marieta como ela têm conseguido se manter longe dos novos livros - essas tentações perfumadas que trazem um universo todinho novo entre a primeira e a quarta capa. Pois bem, amiga, Marieta e eu estamos devorando livros que há muito estavam precisando ser lidos. Em janeiro, lemos dois Annie Ernaux - o que nos trouxe reflexões sobre quem somos e sobre a literatura que fazemos, sobre as literaturas possíveis, sobre a escrita das mulheres. Dois livros tão diferentes que ainda estão reverberando dentro denós.O primeiro, Paixão Simples, falou fundo com Marieta, que sempre foi meio trouxa com as paixões. Ela reviveu na pele aquela sensação de arrebatamento que uma paixão nos causa, que descolore tudo ao redor, como se nada mais importasse, como se o coração batesse por um único motivo. É bonito, mas dura pouco, e em seguida é preciso conviver com as consequências de tudo que foi posto de lado, desconsiderado, por vezes até destruído em prol daquele comichão entre as pernas que faz subir um frio na barriga e que a gente arrisca chamar de amor.
O segundo, O Acontecimento,foi ainda mais profundo, e eu ouso dizer que deve ser a obra prima de Ernaux, porque não deixa nenhuma mulher de fora. Ele fala de um assunto que cerceia e assassina mulheres há décadas, quiçá séculos. É uma narrativa tão despida de enrolação que me fez chorar. Pensei em amigas, conhecidas, colegas que tiveram experiências semelhantes, talvez menos, talvez mais dolorosas, e do quanto as mulheres são desrespeitadas por não poderem escolher o rumo de suas próprias vidas.
Houve ainda um terceiro livro que nos arrebatou, Para onde vão os guarda-chuvas, do Afonso Cruz, que é nosso querido desde o Poeta, e para sempre. Foram quase quinze dias com o coração aflito e os olhos vidrados nessa história. Quando a leitura acabou, uma tristeza silenciosa ficou entalada na garganta, uma vontade de começar tudo de novo, de chorar, de dar um abraço forte no Afonso, de tentar escrever qualquer coisa que transmita um pouco das tantas cores de humanidade que existem e que nos fazem querer viver mais e mais e mais apenas porque ficamos conhecendo um pouco mais do mundo e descobrimos que ele é tão maior do que nós mesmos.
Em resumo, amiga Vanessa, o remédio para não querer tantos livros (não agora, não urgentemente, não porque simplesmente não posso me controlar) foi justamente… livros! Eles são, de fato, a melhor coisa da vida. Não recomendo a ninguém ficar longe deles, assim como não recomendo jamais que alguém deixe de comer chocolate, mas para Marieta, neste momento, está sendo importante provar a si mesma que é possível fazer uma escolha e cumprir com esse combinado. É por isso e apenas para isso que está servindo esse jejum. E porque estamos falidas mesmo.
Sobre o livro do sebo - ah, isso rende uma boa história… .Araraquara é uma cidade onde os crimes nunca são suaves como um assalto à mão armada…. no mínimo, vão arrancar a cabeça da pessoa pra levar um colar, brinco, celular… Mas isso fica pra outro dia!
Muitos beijos :)
Estou contigo Marieta. Seguindo a resolução de ano novo que é "ler o que já tem" sigo até cancelando o meu presente clássico de aniversário que geralmente era uma pilha de livros. Esse ano não...
Minha amiga Marieta, que encanto me ver pelos seus olhos, tanta beleza ❤️ Oh, vou te contar que também sou fã de Annie e que o último que li dela foi Uma Paixão Simples. Precisamos sentar pra tomar rum café ☕️ E já tô querendo algo pra me revirar como Afonso Cruz...quem sabe, assim, consigo me remediar como você 😁💛